sexta-feira, março 27, 2009

Adeus, Querida Tânia

foto: Loca-Bandoca

A Uma Rapariga

Abre os olhos e encara a vida! A sina
Tem que cumprir-se! Alarga os horizontes!
Por sobre lamaçais alteia pontes
Com tuas mãos preciosas de menina.

Nessa estrada de vida que fascina
Caminha sempre em frente, além dos montes!
Morde os frutos a rir! Bebe nas fontes!
Beija aqueles que a sorte te destina!

Trata por tu a mais longínqua estrela,
Escava com as mãos a própria cova
E depois, a sorrir, deita-te nela!

Que as mãos da terra façam, com amor,
Da graça do teu corpo, esguia e nova,
Surgir à luz a haste de uma flor!...

Florbela Espanca

10-10-1982
27-03-2009

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terça-feira, abril 11, 2006

11 de Abril - Citação do Dia

A uma rapariga

Abre os olhos e encara a vida! A sina
Tem de cumprir-se! Alarga os horizontes!
Por sobre lamaçais alteia pontes
Com tuas mãos preciosas de menina.

Nessa estrada da vida que fascina
Caminha sempre em frente, além dos montes!
Morde os frutos a rir! Bebe nas fontes!
Beija aqueles que a sorte te destina!

Trata por tu a mais longínqua estrela,
Escava com as tuas mãos a própria cova
E depois, a sorrir, deita-te nela!

Que as mãos da terra façam, com amor,
Da graça do teu corpo, esguia e nova,
Surgir à luz a haste duma flor!...

Florbela Espanca

Espertalhotes: eduardo, filipa & miguel, papalagui, pipoca, bruxinha, Loca-Bandoca

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segunda-feira, abril 03, 2006

3 de Abril - Citação do Dia

Ó minha terra na planície rasa,
Branca de sol e cal e de luar,
Minha terra que nunca viu o mar
Onde tenho o meu pão e a minha casa...

Minha terra de tardes sem uma asa,
Sem um bater de folha... a dormitar...
Meu anel de rubis a flamejar,
Minha terra mourisca a arder em brasa!

Minha terra onde meu irmão nasceu...
Aonde a mãe que eu tive e que morreu,
Foi moça e loura, amou e foi amada...

Truz... truz... truz... Eu não tenho onde me acoite,
Sou um pobre de longe, é quase noite...
Terra, quero dormir... dá-me pousada!

Florbela Espanca

Espertalhotes: filipa&miguel , neptumância

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sexta-feira, março 24, 2006

24 de Março - Citação do Dia

Volúpia

No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!

A sombra entre a mentira e a verdade...
A nuvem que arrastou o vento norte...
- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!

Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!

E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...

Florbela Espanca

Espertalhotes: neptumância, joana

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quinta-feira, março 16, 2006

16 de Março - Citação do Dia

Eu quero viver contigo
Muito juntinhos os dois
O tempo que dura um beijo
Embora eu morra depois

Florbela Espanca

Espertalhota: joana

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segunda-feira, março 06, 2006

6 de Março - Citação do Dia

Tens um coração de pedra
Dentro dum peito de lama
Pois nem sabes distinguir
Quem te odeia e quem te ama

Por uma que te despreza,
Teu coração endoidece
E a pobre que te quer bem
Só teus desprezos merece!

Florbela Espanca

Espertalhota: joana

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sábado, fevereiro 25, 2006

25 de Fevereiro - Citação do Dia

Cantigas Leva-as o Vento...

A lembrança dos teus beijos
Inda na minh'alma existe,
Como um perfume perdido,
Nas folhas dum livro triste.

Perfume tão esquisito
E de tal suavidade,
Que mesmo desaparecido
Revive numa saudade!

Florbela Espanca

Espertalhotes: bruxinha, neptumância

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quarta-feira, fevereiro 15, 2006

15 de Fevereiro - Citação do Dia ou............ Vai-te Catar, S. Valentim

Ambiciosa

Para aqueles fantasmas que passaram,
Vagabundos a quem jurei amar,
Nunca os meus braços lânguidos traçaram
O voo dum gesto para os alcançar...

Se as minhas mãos em garra se cravaram
Sobre um amor em sangue a palpitar...
- Quantas panteras bárbaras mataram
Só pelo raro gosto de matar!

Minha alma é como a pedra funerária
Erguida na montanha solitária
Interrogando a vibração dos céus!

O amor de um homem? - Terra tão pisada!
Gota de chuva ao vento baloiçada...
Um homem? - Quando eu sonho o amor dum deus!...

Florbela Espanca

Espertalhote: ncd

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segunda-feira, fevereiro 06, 2006

6 de Fevereiro - Citação do Dia

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi para cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...


Florbela Espanca

Espertalhotas: bruxinha, papalagui, caracois

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quinta-feira, janeiro 26, 2006

26 de Janeiro - Citação do Dia

A mocidade esplêndida, vibrante,
Ardente, extraordinária, audaciosa,
Que vê num cardo a folha duma rosa,
Na gota de água o brilho de um diamante;

Essa que fez de mim Judeu Errante
Do espírito, a torrente caudalosa
Dos vendavais irmã tempestuosa,
- Trago-a em mim vermelha, triunfante!

No meu sangue rubis correm dispersos:
- Chamas subindo ao alto dos meus versos,
Papoilas nos meus lábios a florir!

Ama-me doida, estonteadoramente,
Ó meu Amor! que o coração da gente
É tão pequeno... e a vida, água a fugir...

Florbela Espanca

(Dedicado à patxocas e ao meu henrique, mais do que aquários, autênticos oceanários!)

Espertalhotas: joana, bruxinha

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quarta-feira, janeiro 18, 2006

18 de Janeiro - Citação do Dia

Diluído numa taça de oiro a arder
Toledo é um rubi. E hoje é só nosso!
O sol a rir... Vivalma... Não esboço
Um gesto que não me sinta esvaecer...

As tuas mãos tacteiam-me a tremer...
Meu corpo de âmbar, harmonioso e moço
É como um jasmineiro em alvoroço
Ébrio de sol, de aroma, de prazer!

Cerro um pouco o olhar onde subsiste
Um romântico apelo vago e mudo,
- Um grande amor é sempre grave e triste.

Flameja ao longe o esmalte azul do Tejo...
Uma torre ergue ao céu um grito agudo...
Tua boca desfolha-me num beijo...

Florbela Espanca

Espertalhotes: elsita, neptumância, joana, bruxinha

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terça-feira, janeiro 10, 2006

10 de Janeiro - Citação do Dia

Na vida nada tenho e nada sou;
Eu ando a mendigar pelas estradas...
No silêncio das noites estreladas
Caminho, sem saber para onde vou!

Tinha o manto do sol... quem mo roubou?!
Quem pisou minhas rosas desfolhadas?
Quem foi que sobre as ondas revoltadas
A minha taça de oiro espedaçou?!

Agora vou andando e mendigando,
Sem que um olhar dos mundos infinitos
Veja passar o verme, rastejando...

Ah, quem me dera ser como os chacais
Uivando os brados, rouquejando os gritos
Na solidão dos ermos matagais!...

Florbela Espanca

Espertalhotas: joana, bruxinha, elsita

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segunda-feira, janeiro 02, 2006

2 de Janeiro - Citação do Dia

A tarde é de oiro rútilo: esbraseia
O horizonte: um cacto purpurino.
E a vaga esbelta que palpita e ondeia,
Com uma frágil graça de menino,

Poisa o manto de arminho na areia
E lá vai, e lá segue o seu destino!
E o sol, nas casas brancas que incendeia,
Desenha mãos sangrentas de assassino!

Que linda tarde aberta sobre o mar!
Vai deitando do céu molhos de rosas
Que Apolo se entretém a desfolhar...

E, sobre mim, em gestos palpitantes,
As tuas mãos morenas, milagrosas,
São as asas do sol, agonizantes...


Florbela Espanca

Espertalhotes: bruxinha, joana, loca, neptumância

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quinta-feira, dezembro 22, 2005

22 de Dezembro - Citação do Dia

Viver! Beber o vento e o sol! Erguer
Ao céu os corações a palpitar!
Deus fez os nossos braços pra prender,
E a boca fez-se sangue para beijar!

A chama, sempre rubra, ao alto a arder!
Asas sempre perdidas a pairar!
Mais alto até as estrelas desprender!
A glória! A fama! Orgulho de criar!

Da vida tenho o mel e tenho os travos
No lago dos meus olhos de violetas,
Nos meus beijos estáticos, pagãos!

Trago na boca o coração dos cravos!
Boémios, vagabundos, e poetas,
Como eu sou vossa Irmã, ó meus irmãos!

Vocês Sabem Quem

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quarta-feira, dezembro 14, 2005

14 de Dezembro - Citação do Dia

Sou filha da charneca erma e selvagem.
Os giestais, por entre os rosmaninhos,
Abrindo os olhos d'oiro, plos caminhos,
Desta minh'alma ardente são a imagem.

Embalo em mim um sonho vão, miragem:
Que tu e eu, em beijos e carinhos,
Eu e a Charneca e tu e o Sol, sozinhos,
Fôssemos um pedaço de paisagem!

E à noite, à hora doce da ansiedade
Ouviria da boca do luar
O De Profundis triste da saudade...

E à tua espera, enquanto o mundo dorme,
Ficaria, olhos quietos, a cismar...
Esfinge olhando a planície enorme...

Florbela Espanca

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terça-feira, dezembro 06, 2005

6 de Dezembro - Citação do Dia

Eu bebo a Vida, a Vida a longos tragos
Como um divino vinho de Falerno!
Poisando em ti o meu amor eterno
Como poisam as folhas sobre os lagos...

Os meus sonhos agora são mais vagos...
O teu olhar em mim, hoje, é mais terno...
E a Vida já não é o rubro inferno
Todo fantasmas tristes e pressagos!

A Vida, meu Amor, quero vivê-la!
Na mesma taça erguida em tuas mãos,
Bocas unidas hemos de bebê-la!

Que importa o mundo e as ilusões defuntas?...
Que importa o mundo e os seus orgulhos vãos?...
O mundo, Amor?... As nossas bocas juntas!...

Florbela Espanca

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segunda-feira, novembro 28, 2005

28 de Novembro - Citação do Dia

Irmã, Soror Saudade me chamaste...
E na minh'alma o nome iluminou-se
Como um vitral ao sol, como se fosse
A luz do próprio sonho que sonhaste.

Numa tarde de Outono o murmuraste,
Toda a mágoa do Outono ele me trouxe,
Jamais me hão-de chamar outro mais doce.
Com ele bem mais triste me tornaste...

E baixinho, na alma da minh'alma,
Como bênção do sol que afaga e acalma,
Nas horas más de febre e de ansiedade,

Como se fossem pétalas caindo
Digo as palavras desse nome lindo
Que tu me deste: 'Irmã, Soror Saudade...'

Florbela Espanca

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domingo, novembro 20, 2005

20 de Novembro - Citação do Dia

Se os que me viram já cheia de graça
Olharem bem de frente para mim,
Talvez, cheios de dor, digam assim:
'Já ela é velha! Como o tempo passa!...'

Não sei rir e cantar por mais que faça!
Ó minhas mãos talhadas em marfim,
Deixem esse fio d'oiro que esvoaça!
Deixem correr a vida até ao fim!

Tenho vinte e três anos! Sou velhinha!
Tenho cabelos brancos e sou crente...
Já murmuro orações... falo sozinha...

E o bando cor-de-rosa dos carinhos
Que tu me fazes, olho-os indulgente,
Como se fosse um bando de netinhos...

Florbela Espanca

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sábado, novembro 12, 2005

12 de Novembro - Citação do Dia

Passo pálida e triste. Oiço dizer
'Que branca que ela é! Parece morta!'
E eu que vou sonhando, vaga, absorta,
Não tenho um gesto, ou um olhar sequer...

Que diga o mundo e a gente o que quiser!
- O que é que isso me faz?... O que me importa?...
O frio que trago dentro gela e corta
Tudo o que é sonho e graça na mulher!

O que é que isso me importa?! Essa tristeza
É menos dor intensa que frieza,
É um tédio profundo de viver!

E é tudo sempre o mesmo, eternamente...
O mesmo lago plácido, dormente...
E os dias, sempre os mesmos, a correr...

Florbela Espanca

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sexta-feira, novembro 04, 2005

4 de Novembro - Citação do Dia

Eu q'ria ser o mar d'altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu q'ria ser a pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu q'ria ser o sol, a luz intensa,
O bem que é humilde e não tem sorte!
Eu q'ria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão até à morte!

Mas o mar também chora de tristeza...
As Árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!...

Florbela Espanca

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