sábado, setembro 30, 2006

30 de Setembro - Citação do Dia

Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.

Me gustas cuando callas e estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo,
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano e sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.


Pablo Neruda

Etiquetas:

sexta-feira, setembro 29, 2006

29 de Setembro - Citação do Dia

A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam,
e a prova das coisas que não se vêem.

Aos Hebreus

Etiquetas:

quarta-feira, setembro 27, 2006

27 de Setembro - Citação do Dia

MEA CULPA MEA MAXIMA CULPA

Confesso que nasci numa pocilga
onde os porcos em vez de bolotas comiam diamantes
(Mea culpa mea maxima culpa)
E que não é nada fácil fazer uma finta ao destino
quando nos capam à nascença
(Mea culpa mea maxima culpa)
Confesso que é horrível
trazer uma pedra atravancada na boca
(Mea culpa mea maxima culpa)
E que na minha opinião um cacetête
é pouco provocante para ser tomado como um símbolo sexual
(Mea culpa mea maxima culpa)


Jorge de Sousa Braga

Etiquetas:

terça-feira, setembro 26, 2006

26 de Setembro - Citação do Dia

Pensar é sofrer; alumiar é lutar.

Eça de Queiroz, Prosas Bárbaras

Etiquetas: ,

segunda-feira, setembro 25, 2006

25 de Setembro - Citação do Dia

Crepúsculo dos Deuses

Um sorriso de espanto brotou nas ilhas de Egeu
E Homero fez florir o roxo sobre o mar
O Kouros avançou um passo exactamente
A palidez de Atena cintilou no dia

Então a claridade venceu os monstros nos frontões de todos os templos
E para o fundo do seu império recuaram os persas

Celebrámos a vitória: a treva
Foi exposta e sacrificada em grandes pátios brancos
O grito rouco do coro purificou a cidade

Como golfinhos a alegria rápida
Rodeava os navios
O nosso corpo estava nu porque encontrara
Sua medida exacta
Inventámos: as colunas de Sunion imanentes à luz.
O mundo era mais nosso cada dia

Mas eis que se apagaram
Os antigos deuses sol interior das coisas
Eis que se abria o vazio que nos separa das coisas
Somos alucinados pela ausência bebidos pela ausência
E aos mensageiros de Juliano a Sibila respondeu:

'Ide dizer ao rei que o belo palácio jaz por terra quebrado
Febo já não tem cabana nem loureiro profético nem fonte melodiosa
A água que fala calou-se'


Sophia de Mello Breyner Andresen

Espertalhote: eduardo

Etiquetas:

sábado, setembro 23, 2006

23 de Setembro - Citação do Dia

Eu nunca vi um homem, rico ou pobre, que quisesse trocar a sua sorte pela do vizinho, sem levar consigo uma parte de si mesmo e da sua própria felicidade, ou sem rejeitar algum grave inconveniente que descobre na sorte que inveja.

Camilo Castelo Branco, Riquezas do Pobre e Misérias do Rico

Etiquetas:

sexta-feira, setembro 22, 2006

22 de Setembro - Citação do Dia

NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!

Fernando Pessoa

Espertalhotes: eduardo, pequete

Etiquetas:

quinta-feira, setembro 21, 2006

21 de Setembro - Citação do Dia

Todo o culto sincero tem uma beleza essencial, independente dos merecimentos do deus para quem se evola. Duas mãos postas com legítima fé serão sempre tocantes - mesmo quando se ergam para um canto tão afectado e postiço como S. Simeão Estilita.

Eça de Queiroz, Correspondência de Fradique Mendes

Etiquetas:

quarta-feira, setembro 20, 2006

20 de Setembro - Citação do Dia

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Carlos Drummond de Andrade

Espertalhotes: neptumância, eduardo, papalagui

Etiquetas:

segunda-feira, setembro 18, 2006

18 de Setembro - Citação do Dia

Experimentava o ressentimento daqueles que descobrem que, apesar da gravidade da situação em que se encontram, o mundo continua a girar, impiedosamente, sem o menor sinal de compaixão.

Tom Wolfe, A Fogueira das Vaidades

Etiquetas:

sábado, setembro 16, 2006

16 de Setembro - Citação do Dia

É

P
R
O
I
B
I
D
O

E
S
C
E
V
E
R

N
A

M
A
R
G
E
M

Decidi corr
er o risco
sujeitar-me
à erosão da
s águas. Eu
sei. Das mi
nhas vérte
bras nasce
rão praias
de areia fi
na. Na ma
rgem da es
trada na m
argem do te
mpo náufra
go do quot
idiano à es
pera de um
a boleia pa
ra nenhum
lugar...
A margem
é a única h
ipótese de s
obrevivênci
a. Quilóme
tro mil e ci
nquenta e t
rês das mi
nhas veias.
A eternida
de fica mes
mo em fren
te.
Jorge de Sousa Braga
Espertalhote: eduardo

Etiquetas:

sexta-feira, setembro 15, 2006

15 de Setembro - Citação do Dia

Quem não tem armas nem poder acaba por ter outras possibilidades e às vezes penso que atrás do desejo de se oferecer ao cano das espingardas, dê por onde der, está escondido o maior dos egoísmos.

Siegfried Lenz, O Barco Farol

Etiquetas:

quinta-feira, setembro 14, 2006

15 de Setembro - Citação do Dia

As Pessoas Sensíveis

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

'Ganharás o pão com o suor do teu rosto'
Assim nos foi imposto
E não:
'Com o suor dos outros ganharás o pão.'

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Espertalhotes: joana, papalagui, eduardo

Etiquetas:

quarta-feira, setembro 13, 2006

13 de Setembro - Citação do Dia

Although I admired scholarship so much, I was not deceived about myself; I knew that I shoul never be a scholar. I could never lose myself for long among impersonal things.

Willa Cather, My Àntonia

Espertalhota: joana

Etiquetas:

terça-feira, setembro 12, 2006

12 de Setembro - Citação do Dia

Coroai-me de rosas,
Coroai-me em verdade
De rosas -
Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta.
Ricardo Reis
Espertalhotes: papalagui, eduardo

Etiquetas:

segunda-feira, setembro 11, 2006

11 de Setembro - Citação do Dia

Sem as imagens que cada um cria de si, como é que as pessoas poderiam prolongar-se e resistir?

José Cardoso Pires, Alexandra Alpha

Etiquetas:

domingo, setembro 10, 2006

10 de Setembro - Citação do Dia

Character

I marvel how Nature could ever find space
For so many strange contrasts in one human face:
There's thought and thought, and there's paleness and bloom
And bustle and sluggishness, pleasure and gloom.

There's weakness, and strength both redundant and vain;
Such strength as, if if ever affliction and pain
Could pierce through a temper that's soft to disease,
Would be rational peace - a philosopher's ease.

There's indifference, alike when he fails or succeeds,
And attention full ten times as much as there needs;
Pride where there's no envy, there's so much of joy;
And mildness and spirit both forward and coy.

There's freedom, and sometimes a diffident stare
Of shame scarcely seeming to know that she's there,
There's virtue, the title it surely may claim,
Yet wants heaven knows what to be worthy the name.

This picture from Nature may seem to depart,
Yet the Man would at once run away with your heart;
And I for five centuries right gladly would be
Such an odd such a kind happy creature as he.

William Wordsworth

Espertalhotes: joana, eduardo

Etiquetas:

sábado, setembro 09, 2006

9 de Setembro - Citação do Dia

Olharem-se era a casa de ambos.

José Saramago, Memorial do Convento

(para Witchie e Safekeeper, com um grande abraço)

Etiquetas:

quinta-feira, setembro 07, 2006

7 de Setembro - Citação do Dia

HISTÓRIA TRÁGICO-MARÍTIMA

Era a segunda vez que se fazia ao mar. Era a segunda vez que uma traineira o recolhia a dois quilómetros da costa. O cisne é um palmípede que vive na água doce. Vem nos livros. Porque havia um cisne de se fazer ao mar? O seu lugar era a água doce. Um lago qualquer com meninos de calção e mamãs a dizerem: - Olha um cisne! Era a segunda vez que se fazia ao mar... O guarda do parque foi ameaçado de despedimento. Caso a sua fuga se concretizasse constituiria um lamentável precedente. Imaginem que... Era a segunda vez que se fazia ao mar. Era a segunda vez que uma traineira o recolhia a dois quilómetros da costa.
Jorge de Sousa Braga
Espertalhote: eduardo

Etiquetas:

quarta-feira, setembro 06, 2006

6 de Setembro - Citação do Dia

Não vos assustais com esta Humanidade onde aqueles que não são anónimos e precisamente os mais conhecidos, são suicidas, desesperados, sozinhos ou loucos?!

Almada Negreiros, Ensaios

Etiquetas:

terça-feira, setembro 05, 2006

5 de Setembro - Citação do Dia

Data
À maneira de Eustache Deschamps

Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação

Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo de escravidão

Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rasto
Tempo de ameaça

Sophia de Mello Breyner Andresen

Espertalhotes: joana, eduardo

Etiquetas:

segunda-feira, setembro 04, 2006

4 de Setembro - Citação do Dia

A sua febre de trabalho era, pura e simplesmente, temor: temor dos berros, temor da mãe, e ainda, e muito particularmente, o seu modo de compensar a timidez e a frustração, que o enxovalhavam perante os companheiros, com qualquer coisa que os outros devessem invejar. Um dia seria alguém. Teria de ser alguém! Aqueles que o amachucavam de alcunhas, apenas porque era um desastrado em todos os jogos, aqueles que o enxotavam dos bandos secretos, com os seus rituais sinistros e fascinantes, os seus códigos e os seus insondáveis esconderijos, um dia haveriam de orgulhar-se de, nos tempos de escola, terem sido seus condiscípulos. Escolheria uma carreira invulgar.

Fernando Namora, As Sete Partidas do Mundo

Etiquetas:

domingo, setembro 03, 2006

3 de Setembro - Citação do Dia

Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.

Que pena tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas coisas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos...

Por isso ele tinha aquela grande tristeza,
Que ele nunca disse que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
e pôr plantas em jarros...

Alberto Caeiro

Espertalhotes: eduardo, joana

Etiquetas:

sábado, setembro 02, 2006

2 de Setembro - Citação do Dia

Inútil mudar de posição ou procurar tolher o pensamento quando os cavalos da insónia tomam conta de nós. Galopam, esvoaçam por cima de abismos e atiram-nos infalivelmente para o poço da tentação; e fixamos um pressentimento, uma sombra...

José Cardoso Pires, O Delfim

Etiquetas:

sexta-feira, setembro 01, 2006

AGOSTO - ESPERTALHOTA DO MÊS

Pois é, caros amigos, a massa cinzenta não vai de férias. Ali está, firme e hirta como uma barra de ferro, lançando seus tentáculos de cultura da pérfida Albion para a blogosfera, a mulher que faria a ruína de qualquer concurso televisivo:

Etiquetas: