quarta-feira, setembro 20, 2006

20 de Setembro - Citação do Dia

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Carlos Drummond de Andrade

Espertalhotes: neptumância, eduardo, papalagui

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quinta-feira, agosto 03, 2006

3 de Agosto - Citação do Dia

Uma velha e perfeita cozinheira a quem pedi a fórmula sagrada
Da feijoada à mineira,
Mandou-ma. Ei-la: 'Receita de Feijoada -

Tome coisa de um litro de feijão
Preto, novo, sem bicho,
E, depois de catado com capricho,
Jogue no caldeirão.

(Com feijão que não seja preto é à toa
tentar fazer feijoada.
E se tentar, não cuide que sai boa;
Sai não valendo nada.)

Quando estiver o caldeirão fervendo
Ou antes, deite o sal,
As mãos de porco, orelhas e, querendo,
Focinhos e rabo; isto (está claro) tendo,
Porque não tendo é o mesmo, não faz mal.

Se, além desses preparos, deitar nela
Linguiça e mais um osso de presunto,
Só o cheiro da panela
Faz crescer água à boca de um defunto.

Eu já me ia esquecendo (que memória)
Da carne seca e da couve.
Feijoadas sem elas, qual! É a história...
Não há nem nunca houve.

Depois de tudo bem cozido, a ponto,
Machuque bem um pouco de feijão
E pronto.
Mas machuque só a parte que senão
Em vez de feijoada sai pirão.

Eis, aí está o prato preparado...
Minto: falta ainda o molho
Que embora simples é o segredo e escolho
De muito bom guisado

O molho faz-se com vinagre, ou então,
(Para sair a coisa mais completa)
com suco de limão
e bastante pimenta malagueta.

Sal, ponha quantum satis
Não vai ao fogo nem ligeiramente
Exceto se levar também tomates,
Cebola, ou outro que tal ingrediente

Com a feijoada, a clássica, a mineira
É compulsório o uso de farinha.
Como bebida, um trago de caninha.
Há quem regue a vinho; mas é asneira.

Quanto à caninha fale-se
Ou não se fale, a mim é indiferente.
Eu tenho a firme opinião que um cálice
Nenhum mal faz à gente.'

Eis aí a receita.
Publico-a sem responsabilidade.
Experimentem, se sair bem feita
E eu, no dia, estiver nessa cidade...
Não insinuo nada:
Apenas lembro que ninguém rejeita
Convite para almoço de feijoada.

Carlos Drummond de Andrade

Espertalhotes: joana, filipa & miguel, neptumância, papalagui

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sexta-feira, dezembro 30, 2005

30 de Dezembro - Último Post do Ano

A jerenssia dest belogue deseija a toudos os quelientes e hamigues um Felis Anouvo com muntas propiedades.


RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond de Andrade

Com um obrigada à Andante http://www.andante.com.pt/

O resultado sai no ano que vem...

Espertalhotas: fungaga, papalagui, joana e caracois

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