quinta-feira, junho 14, 2007

As Ratas de Barcelona

Conhecem aqueles textos espanhóis com traduções manhosas? Tipo 'Viaje a Badajoz e disfrute as ilusões de um dia inolvidável', ou 'Pilhas não inclusas'? Agora imaginem ler um livro inteirinho assim. Em 'Os Mares do Sul', de Manuel Vásquez Montalbán, as pessoas bebem 'taças' de café, 'compartem' refeições, 'passam' a compartimentos, há lares para 'anciãos', são 'pulcras' a dar com um pau, começam todas as frases por 'pois'. Por algum milagre que não entendo, mas que agradeço, não bebem nada por 'vasos', mas escrevem 'informes', têm 'citas' e nunca telefonam, 'chamam'. Eu podia continuar, mas tenho coisas para fazer até ao fim do ano. Em todo o caso, uma nota de cultura geral: parece que em Barcelona existe uma rata por habitante. O que pode dar azo a todo o tipo de actividades lúdicas, pois, se há barceloneses (?) para quem as ratas são importantes e até indispensáveis, outros haverá que não têm uso para a sua obrigatória rata respectiva. Hão-de fazer-se grandes negócios à conta das ratas de Barcelona.
O que me irrita é que, graças ao tradutor automático espanhol/português que todos nós, lusos, temos incorporado, consegui aperceber-me de que o original deve ser muito bom. Como diria o tradutor desta edição, pois homem, há que lê-lo, por suposto.

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14 Comments:

Blogger eduardo jai said...

Pois que este rato de prosa está bárbaro!

Pois que quase me desgraçei assim que mirei isto depois de ter terminado o bocadinho de jambão. Poderia ter sido um fecho desagrável para o meu estômago - o bromeio rompeu com a minha tranquilidade e não consegui quedar-me sem tomar o riso.

Olha, pois quanto a quem redatou estas palavras pois que não o sei, que não estou muito seguro mas que leva a minha simpatia, por suposto.
(Hóstia! Me daria já alguma prata para o MRTC - Movimento Regenerador das Traduções em Castelhano).
Todavia, me vou a beber um trago do vaso da intuição e contestar que seu nome poderá ser 'Ana'.

Pois que me vou até ao meu rincão. Vale! Até pronto.

:)

6:13 da tarde  
Blogger ana said...

Ha! Reconheço o estilo. O tradutor foste tu! Homem, pois perdoa-me, que se soubera isso, não te molestaria com os meus dichotes.

9:09 da tarde  
Blogger fungaga said...

Acho que foi o mesmo tradutor que, uma vez num filme que vi, traduziu "Am I a murderer for crying out loud?" por "Eu sou um assassino, só por gritar alto?"

9:55 da tarde  
Blogger fernando said...

pois aproveitando a vossa momentânea distracção me vou a contestar que a autoria desta citação pertence à dona da casa, ANA, por suposto!

1:10 da tarde  
Blogger fernando said...

¡Y más! Venero siempre que la tortuga él misma si arma a los cagados

8:53 da manhã  
Blogger ana said...

Home, pois muitas graças, mas parece que a tartaruga não tem tanta saída como a lebre. Um grande peropompero para ti.

1:33 da tarde  
Blogger AnaGF said...

Ai, qu'horror!

5:45 da tarde  
Blogger Unknown said...

http://www.google.co.uk/search?source=ig&hl=en&q=rata+de+barcelona&meta=

mais de 80000 referencias a rata de barcelona
;-p

9:06 da manhã  
Blogger Pitucha said...

Traduções género: voici le jeune qui arrive, eis o génio, que horrível?
:-)
Beijos

7:53 da manhã  
Blogger Leonor said...

Eu sempre achei que escrevias bem :-)

1:53 da tarde  
Blogger ana said...

Pitucha, já li um artigo de jornal em que o verso de Brel 'laisse-moi devenir l'ombre de ta main, l'ombre de ton chien', era traduzido (e analisado dramaturgicamente!) como 'o ombro da tua mão, o ombro do teu cão'.

Obrigada, papalagui, ou melhor, muitas graças.

2:40 da tarde  
Blogger Tânia said...

Marcenda, este texto é uma pérola! LOL!!!

11:57 da manhã  
Blogger Loca said...

Adorei!

5:40 da tarde  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Amei!

Li esse livro de Montalbán, há já uns bons anos. Não me lembro de a tradução estar tão má, mas é bem possível.

Lembro-me de outros autores traduzidos para a lingua lusa a partir do espanhol: Alfredo Bryce Echenique (onde traduziam "rubia" por "Ruiva") e António Muñoz Molina com aquele fabuloso "Plenilúnio" que tem carradas de expressões e frases vertidas directamente da língua de "nuestros hermanos" sem a menor preocupação de procurar um equivalente para o português. Um crime, até, porque a maior parte delas nem tem o mesmo significado pragmático, ou mesmo semântico que em português. A ediçãoé de 1998.

11:16 da tarde  

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