Moça na sua Cama
Papai tosse, dando aviso de si,vem examinar as tramelas, uma a uma.A cumeeira da casa é de peroba do campo,posso dormir sossegada. Mamãe vem me cobrir,tomo a bênção e fujo atrás dos homens,me contendo por usura, fazendo render o bom.Se me tocar, desencadeio as chusmas,os peixinhos cardumes.Os topázios me ardem onde mamãe sabe,por isso ela me diz com ciúmes:dorme logo, que é tarde.Sim, mamãe, já vou:passear na praça em ninguém me ralhar.Adeus, que me cuido, vou campear nos becos,moa de moços no bar, violão e olhosdifíceis de sair de mim.Quando esta nossa cidade ressonar em neblina,os moços marianos vão me esperar na matriz.O céu é aqui, mamãe.Que bom não ser livro inspiradoo catecismo da doutrina cristã,posso adiar meus escrúpulose cavalgar no torpordos monsenhores podados.Posso sofrer amanhãa linda nódoa de vinhodas flores murchas no chão.As fábricas têm os seus pátios,os muros tem seu atrás.No quartel são gentis comigo.Não quero chá, minha mãe,quero a mão do frei Crisóstomome ungindo com óleo santo.Da vida quero a paixão.E quero escravos, sou lassa.Com amor de zanga e momoquero minha cama de catre,o santo anjo do Senhor,meu zeloso guardador.Mas descansa, que ele é eunuco, mamãe.Adélia PradoEspertalhota: fungagaEtiquetas: langores, prado tropical