sábado, novembro 29, 2008

29 de Novembro - Citação do Dia


Foi-me preciso descobrir que:

a lógica é a ciência de gerir os rendimentos da estupidez;
os políticos não são inteiramente galinhas porque cacarejam e não põem ovos;
as pastas dos executivos levam dentro aranhas para urdirem as teias que nos imobilizam;
os militantes de todos os partidos têm pele de camisas enforcadas;
a família é um cardume de piranhas ao redor da carcaça de uma vaca sagrada;
a sociologia é uma completa falta de humor perante a decadência;
os gestores destilam um suor frio que nos constipa;
as nações içam as bandeiras para pôrem o falo a pino e masturbarem-se;
as esquerdas e as direitas resultam do pacto de não inverterem os papéis;
o socialismo é um estratagema para negar aos exploradores o direito ao desaparecimento;
o liberalismo é uma manha do estado para forjar algemas com a liberdade;
os intelecuais são uma chatice com que o criador não contava;
sendo a educação a providência dos imbecis que são em maior número, o mundo está imbecilizado pela educação;
o sistema é a creche da debilidade mental e a vala comum da inteligência;
a economia é adquirir o vício do fumo porque se comprou um isqueiro;
dos vencidos não reza a história porque se renderam à razão,


para concluir que:
chegou a hora romântica de os deuses nos pedirem a desobediência.
Faço-lhes a vontade. A partir de hoje, se alguém me quiser encontrar, procure-me
entre
o riso e a paixão.


Natália Correia


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quinta-feira, julho 03, 2008

3 de Julho - Citação do Dia

Queixa das Almas Jovens Censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crâneos ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte

Natália Correia

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quinta-feira, agosto 30, 2007

30 de Agosto - Citação do Dia

Auto-Retrato

Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio de um corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
Quebrado em jogos infantis.

Natália Correia

Espertalhotes: joana, eduardo

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quinta-feira, fevereiro 22, 2007

22 de Fevereiro - Citação do Dia

Ouve tu, meu cansado coração,
O que te diz a voz da natureza:
- 'Mais te valera, nu e sem defesa,
Ter nascido em aspérrima solidão,

Ter gemido, ainda infante, sobre o chão
Frio e cruel da mais cruel deveza
Do que embalar-te a Fada da Beleza,
Como embalou, no berço da Ilusão!

Mais valera à tua alma visonária,
Silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hostil e a turba vária,

(Sem ver uma só flor das mil, que amaste)
Com ódio e raiva e dor - que ter sonhado
Os sonhos ideais que tu sonhaste!'

Antero de Quental

Espertalhote: neptumância

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sexta-feira, dezembro 29, 2006

29 de Dezembro - Citação do Dia

Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce,
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas,

Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terríveis cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?

Um cavaleiro de expressão potente,
Formidável, mas plácido, no porte,
Vestido de armadura reluzente,

Cavalga a fera estranha sem temor:
E o corcel negro diz: 'Eu sou a Morte!'
Responde o cavaleiro: 'Eu sou o Amor!'

Antero de Quental

Espertalhota: papalagui

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quarta-feira, maio 03, 2006

3 de Maio - Citação do Dia

Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos d'um fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;

Ou, vendo o mar, das ermas cumeadas,
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longe, no horizonte amontoadas:

Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão, e empalideces...

O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.

Antero de Quental

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quinta-feira, dezembro 29, 2005

29 de Dezembro - Citação do Dia

O menino desenha
O pólen do seu lápis cai nas folhas maltratadas;
No papel, a mãezinha é apenas uma bolha.
O menino risca e pede a Deus que o seu pai venha
Ver estas coisas desenhadas.

A irmãzinha mais moça quer o lápis e olha,
Uma lágrima em bico o seu olhar envidraça;
A chuva do menino são uns pontos tão depressa
Que o lápis se estilhaça.

O menino faz o galo, a torre, a casa e o judeu,
Que mostra aos outros meninos:
Mas a casa é que tem as pernas e o galo é que abre janelas,
A torre é que usa as barbas e o judeu tem os sinos
Por não ter nada de seu.
Oh meu rico menino, que fazes as coisas belas!

A irmã mais velha do menino há-de
Ser a mãe dos sobrinhos que desenharão também
O tio com uma bolha, como ele vê em bolha a sua mãe.
'Tem óculos, não está quieta e é muito boa';
O menino garatuja,
E vê-se a luz e os vidros, e até se vê a bondade
Que veio à sua mão suja
Do lado em que estava a pessoa.

O irmãozito do menino
Também está metido, e bem, neste quadrado:
É aquela figura de que o avô disse: 'É um pepino!',
Sem se lembrar que o artista podia ficar magoado.

Vitorino Nemésio


Espertalhota do Dia: caracois

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