terça-feira, dezembro 23, 2008

23 de Dezembro - Da Arca dos Faits-Divers

Refeição camponesa na Idade Média

A Refeição na Idade Média

É cada vez mais frequente ouvir falar em cozinha medieval e mesmo em pratos medievais. Contrasenso. Os pratos só mais tarde entraram nas mesas dos portugueses.
A carne ou o peixe comiam-se sobre grandes metades de pão postas em frente de cada pessoa.
Entre os mais ricos, era costume distribuir esses pedaços de pão, depois das refeições, pelos mendigos ou pelos cães que rodeavam a mesa.
As colheres utilizavam-se raramente.
Garfos, ninguém conhecia. Daí que imperasse o hábito de lavar sempre as mãos antes de comer. 'Servidores traziam justas ou gomis, de prata ou de outro material consoante a abastança da mesa, e bacias grandes sobre as quais se colocavam as mãos. Em banquetes de especial requinte, a água simples podia ser substituída por água de rosas ou de outro perfume', salienta Oliveira Marques em A Sociedade Medieval Portuguesa.
Cada pessoa levava consigo a faca com que se servia. Após a refeição, era regra limpá-la à toalha.
Para beber, usavam-se os 'vasos' - copos maiores e mais pesados do que os actuais.
Tochas empunhadas por criados 'anunciavam' a chegada de cada uma das iguarias ou do vinho. Naquele tempo, era tão vulgar o receio dos envenenamentos que se utilizavam certos objectos, aos quais eram atribuídas virtudes mágicas, para detectar a pureza dos alimentos. 'Ao contacto com os alimentos impuros, este e outras talismãs mudariam de cor, manchar-se-iam ou começariam até a sangrar, acreditasvam as gentes...', esclarece ainda Oliveira Marques.
Durante a Idade Média, o jantar e a ceia eram as duas principais refeições. Nos fins do século XIV, jantava-se entre as 10 e as 11 horas da manhã e ceava-se pelas ou sete horas da tarde.
A carne, assada, cozida ou estufada, era a base da alimentação, por excelência. Consumia-se, principalmente, a caça e a criação, que, aliás, o vilão também utilizava para fazer parte dos pagamentos ao seu senhor.
Uma receita da época descreve uma das formas de cozinhar a galinha:
'Tomarão esta galinha e cozê-la-ão com salsa, coentros, hortelã e cebola; então deitar-lhe-ão sua tempera de vinagre e depois dela temperada e cozida tomarão este caldo e deitá-lo-ão a ferver em uma púcara e pô-la-ão a ferver em outra; e deitar-lhe-ão dentro, na mesma panela, meia-dúzia de ovos. E com este mesmo caldo de ovos tomarão dois pares de gemas de outros ovos e batê-los-ão e farão um caldo amarelo; e então tomarão a mesma galinha e pô-la-ão num prato com duas fatias de pão por baixo; e depois desta galinha posta nas fatias, pôr-lhe-ão os ovos que estão cozidos por de redor, e então deitar-lhe-ão o mesmo caldo amarelo dos outros ovos por riba e deitar-lhe-ão canela pisada por riba.'
Além da carne, também o peixe fazia parte da alimentação, sobretudo, das classes menos abastadas.
A pescada parece ter sido um dos peixes mais consumidos pelos portugueses durante a Idade Média. Mas as sardinhas, sáveis, salmonetes e lampreias faziam, igualmente, parte da refeição de muitas pessoas. Frequentemente, comia-se carne de baleia e de toninha, mariscos e crustáceos e, também, peixe seco, salgado e defumado.
As hortaliças e os legumes eram mais utilizados pelas pessoas das camadas sociais mais baixas.
A comida era temperada com vários tipos de matérias gordas, das quais se destacava o azeite. Na alimentação medieval portuguesa predominavam também as 'viandas de leite', ou seja, o queijo, a nata, a manteiga, os doces feitos à base de lacticínios e o próprio leite. Mas, segundo conta Oliveira Marques, D. Duarte não os aconselhava: "Que não se comessem natas nem outras 'viandas de leite' consideradas húmidas e por isso nocivas à saúde; ou, a comê-las, que fosse em pouca quantidade e sempre no fim das refeições, e que jamais se bebesse depois de as ter tomado."
Ovos e fruta comiam-se com abundância. Conheciam-se então quase todas as frutas que comemos hoje. Eram também consumidas secas, em conserva ou em doce.
Os bolos, cuja produção ainda estava pouco desenvolvida, fabricavam-se sobretudo à base de mel.
Mas era nos cereais e no vinho que assentava principalmente a alimentação do 'povo miúdo' na época medieval.
As searas de trigo abundavam mas, mesmo assim, a produção não era suficiente para o consumo. As crises cerealíferas repetiam-se e era então necessário importar trigo do estrangeiro. O preço do pão subia e muita gente morria de fome.
No campo, a alternativa para o pão era a castanha ou a bolota. Ou o milho, o centeio e mesmo a cevada, que constituíam a base da panificação.
As bebidas também não eram muito diversificadas. Chá, café e chocolate ainda não se conheciam.
Era com água e vinho que se matava a sede. Este não era apenas consumido no seu estado normal, mas também cozido. Temperado com água era a bebida ideal. 'Que não se bebesse, no entanto, mais de duas ou três vezes ao jantar e outro tanto à ceia (...). E que fossem duas partes sempre de água', aconselhava, então, D. Duarte.

(Texto retirado de não sei onde, não sei quando, e escrito não sei por quem. Não arrisco o autor, mas cheira-me a Revista de O Jornal, nos anos 80)



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A Senhora Sócrates

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1 Comments:

Blogger Elsita said...

Feliz Natal, querida Marcenda!

10:22 da manhã  

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