9 de Janeiro - Citação do Dia
Nem o grande negociante, nem o juiz, nem o advogado conservam o seu bom senso. Eles já não sentem e aplicam as regras que falseiam as condições. Levados pela sua existência torrencial, não são esposos, nem pais, nem amantes; deslizam como trenós sobre as coisas da vida e vivem todos os momentos empurrados pelos negócios das grandes cidades. Quando entram em casa são solicitados para ir aos bailes e à Ópera, para festas onde vão arranjar clientes, conhecimentos e protectores; todos comem desmedidamente, jogam, perdem noites e os seus rostos empapam-se, avermelham-se e aviltam-se. A estes terríveis gastos de forças intelectuais, a estas contracções morais tão frequentes, opõem-se não o prazer - é pálido demais e não produz nenhum contraste - mas o deboche, deboche secreto e assustador, porque eles podem dispor de tudo e fazem a moral na sociedade. A sua estupidez real esconde-se sob uma ciência especial. Sabem do seu ofício mas ignoram tudo o que o não seja. Então, para salvar o seu amor-próprio, eles discutem tudo e criticam a torto e a direito. Parecem pessoas que têm dúvidas, mas são na realidade mata-moscas que afogam o seu espírito em intermináveis discussões. Quase todos adoptam comodamente os preconceitos sociais, literários ou políticos, para se dispensarem de terem uma opinião, ao mesmo tempo que põem as suas consciências ao abrigo do código e do tribunal de comércio. Tendo começado cedo a tentar ser homens notáveis, tornam-se medíocres e rastejam sobre as sumidades do mundo.
Honoré de Balzac, A Rapariga dos Olhos de Ouro
Honoré de Balzac, A Rapariga dos Olhos de Ouro
Etiquetas: ódios de estimação
2 Comments:
Estás a desiludir-me, fungaga. Então e Carlos Drummond de Andrade, hã? Ai ai ai...
Pois, Marx é bom, porque pode ser o amigo do Engels ou o Groucho. Uma solução polivalente, sim senhora.
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