segunda-feira, novembro 27, 2006

Não, Fernando Pessoa é Isto:

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
'O menino da sua mãe'.

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
'Que volte cedo, e bem!'
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

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3 Comments:

Blogger Leonor said...

Pois é :)

12:02 da tarde  
Blogger P said...

Fixei pela parte: Tão jovem que jovem era...
E que se transformou numa fabulosa música da Mafalda Veiga. ;)

1:59 da tarde  
Blogger eduardo jai said...

Pois... Como sei este poema quase de cor, ontem só li os primeiros versos e não me lembrei da "versão" do Mário.
O que torna a escolha ainda mais perfeita: Pessoa por Cesariny, que ele tanto amava.


Um resto de dia bom e um duplo obrigado.
:)

4:12 da tarde  

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