sexta-feira, janeiro 19, 2007

Pausa nas Palavras

As Palavras vão fazer uma pausa temporária,
por 384 motivos diferentes, uns bons, outros não,
que não vale a pena enumerar.
Por favor, não desistam já,
espertalhotes da minha alma.
Vão espreitando,
que As Palavras voltam assim que puderem.
Abraços espertalhóticos.

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quarta-feira, janeiro 17, 2007

17 de Janeiro - Citação do Dia

Às vezes, em sonho triste
Nos meus desejos existe
Longinquamente um país
Onde ser feliz consiste
Apenas em ser feliz.

Vive-se como se nasce
Sem o querer nem saber.
Nessa ilusão de viver
O tempo morre e renasce
Sem que o sintamos correr.

O sentir e o desejar
São banidos dessa terra.
O amor não é amor
Nesse país por onde erra
No meu longínquo divagar.

Nem se sonha nem se vive:
É uma infância sem fim.
Parece que se revive
Tão suave é viver assim
Nesse impossível jardim.

Fernando Pessoa

Espertalhotes: joana, eduardo, witchie

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domingo, janeiro 14, 2007

14 de Janeiro - Citação do Dia

Desgraçadamente, nada passa de moda mais depressa do que os mártires. Enquanto a facção a favor da qual eles deram testemunho triunfa, ou, pelo menos, sobrevive, tira partido deles; conta no seu naipe com estas cartas sangrentas. Chega, porém, muitas vezes bem depressa, um momento em que a fé que eles serviram se amorna, instala-se por sua vez numa espécie de conformismo, prefere não evocar com demasiada frequência aqueles grandes e incómodos exemplos. Além de que os novos mártires fazem esquecer os antigos; as divergências pelas quais foram sacrificados não são conciliadas, antes deitadas para um canto; no decurso de outros conflitos sucessivos, o pensamento ou o fanatismo humano tomam partido de outra maneira.

Marguerite Yourcenar, A Benefício do Inventário

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sábado, janeiro 13, 2007

13 de Janeiro - Citação do Dia

Essa mulher, a doce melancolia
dos seus ombros, canta.
O rumor
da sua voz entra-me pelo sono,
é muito antigo.
Traz o cheiro acidulado
da minha infância chapinhada ao sol.
O corpo leve quase de vidro.

Eugénio de Andrade

Espertalhote: eduardo

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quarta-feira, janeiro 10, 2007

10 de Janeiro - Citação do Dia

Não é ponto de fé que as existências sejam menos curtas, ou a felicidade menos possessiva, na modorra das ruínas, do que nas babilónias onde o homem carrega, como uma triste besta, o fadário de viver.

Aquilino Ribeiro, A Via Sinuosa

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segunda-feira, janeiro 08, 2007

8 de Janeiro - Citação do Dia

PRAÇA DOS LEÕES

Estou aqui à tua espera
num café na Praça dos Leões
Combinei um encontro contigo pelo telefone
prometeste que desta vez não faltarias
Estou aqui à tua espera
as mãos suadas a testa suada não sei como controlar
a minha ansiedade
Tenho combinado inúmeros encontros contigo
através de bilhetes postais ramos de violetas bombardeiros apaixonados
amanhã à quatorze horas no hall de entrada do
Grande Hotel do Universo
nas retretes nos jardins nas margens do rio Douro
Estou aqui à tua espera
Aliás desde que me conheço que não faço outra coisa
senão estar à tua espera
Disseram-me que tinhas o nome e o corpo duma mulher
que eras uma nuvem branca ou uma aurora boreal
Estou aqui à tua espera
Já passam algumas horas sobre a hora marcada
Hoje decerto que não vens
Mas eu continuarei à tua espera
Daqui a dois mil anos ainda aqui estarei à tua espera
No fundo eu sei que nunca te vou encontrar
Que tu
talvez estejas nisso mesmo:
em nunca te encontrar!


Jorge de Sousa Braga

Espertalhote: eduardo

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sábado, janeiro 06, 2007

6 de Janeiro - Citação do Dia

Com a devida vénia, reproduzo abaixo o discurso de um dos galardoados, o eduardo.

(interiorizar o momento de glória / lembrar os exercícios respiratórios da última workshop de tantrismo / relaxar)
(cobrir a argola na orelha esquerda com cabelo / verificar o nó da gravata)

(esperar que os flashes dos media e telemóveis se acalmem)

(tossir baixo e sorrir)

(inspirar)
(expirar)

(ler)
Excelsa Academia Palavras dos Outros, caros co-galardoados, trabalhadores do galardão, espertalhotes de qualquer cor ou religião, humanidade:

Não podia deixar de estar presente a este jantar de gala e peço desculpa por só hoje agradecer este honorífico prémio que tão graciosamente decidiram atribuir-me e que guardarei para sempre na minha – até hoje – singela galeria de sucessos incontornáveis.
É com muito gosto que retribuo com algumas palavras a minha profunda e sentida gratidão.

(pigarrear ao de leve)
(não deixar cair as 148 páginas / fixar um pouco o olhar na cadeira vazia no lado direito do púlpito)

(continuar)
Serei breve, para não permitir que a glória ofusque, por um segundo, a humildade com que cheguei até aqui…

(esperar que o suborno ao tipo do som faça efeito / continuar assim que o “New York, New York” do Sinatra se ouvir)
(gole de água / não pedir cerveja)

(continuar)
…sim, até aqui…com os joelhos a tremer, com os olhos humedecidos pela surpresa que os inundou ao saber da vitória, com a alma trespassada pelas flechas da emoção, mas, apesar de tudo, pelo meu próprio passo e certo que, como com os dinossauros, as pegadas que deixei neste meu longo e doloroso trajecto até ao sucesso, poderão contribuir para que gerações futuras, de outros milénios, através da observação e aprendizagem do meu/nosso coxear, possam desbravar caminhos mais fáceis, em direcção ao conhecimento.

(recuperar o fôlego / esticar a coluna vertebral em bicos dos pés / levantar a fronte para os holofotes, 35º norte)
(desviar o olhar da morena bonita que invariavelmente se senta sempre na 1ª fila de qualquer acontecimento cultural)

(LER A ÚLTIMA NOTA 3 VEZES)

(continuar)
Dito isto, e porque vejo nos vossos olhos que, como eu, aguardam com excitação que Dame Ana Marcenda apresente o relatório e contas de 2006 – elaborado, de acordo com fontes seguras, com uma margem de erro inferior às migalhas que, enternecidamente, depositou nos sacos que nos oferendará à saída –…

(2 lentos goles de água / prosseguir assim que “(Nothing but) Flowers” dos Talking Head se faça escutar)
(desviar o olhar da morena bonita que invariavelmente se senta sempre na 1ª fila de qualquer acontecimento cultural)

(LER A ÚLTIMA NOTA 6 VEZES)

(continuar)
…retiro-me sem citar de cor, um por um, os nomes que agora não me recordo porque a emoção me branqueou as páginas amarelas da memória.
Direi apenas, para terminar:

Vós sabeis quem sois, o que fizestes por mim!
OBRIGADO, MUITO OBRIGADO, anónimos do meu coração.
Os vossos nomes serão lembrados no Panteão dos Espertalhotes, cada um será para sempre uma letrinha na sopa imensa com que o universo alimenta os espíritos elevados.
E, se encontrarem lá letrinhas com quem conversar, casem-se, reproduzam-se – façam palavras, para os outros.

“A vós a iluminação, a nós o galardão”, como disse Platão.

Disse.

(“disse” = fim / agradecer os aplausos com o olhar estendido para o horizonte / deixar as 145 páginas restantes no local para que possam ser encontradas e glorificadas nas próximas décadas)


(mandar SMS à MARIA ALBERTINA para dizer que o discurso foi um sucesso)



(lembrar pôr os óculos na próxima ocasião)
(agora é tarde… esquecer)
(sorrir e sair).
FIM DO DISCURSO DE AGRADECIMENTO



Perdão… Diga?...
Ah! OK… Não foi Platão…?
Plutão??...
OK, OK… também não.
Pois…

Como se chamava o tipo que inventou as lâmpadas eléctricas?
Nobel?! Nem pensar, esse inventou a dinamite…
Que disse? Carmona Rodrigues??…
Não pode ser… Talvez o Santa Claus...

Estava a brincar, minha senhora, o pai natal era uma ironiazinha.
De forma alguma, eu respeito os palhaços.
Ah essa do palhaço era comigo?
….
Descartes?
José Mourinho?
….

Paulo Coelho?
Também não…?

OK…


Aristóteles?…
Pronto, desculpem, não é preciso vaiar, caramba!


Claro que me vou lembrar, também quero jantar!
Só um minuto, deixem-me pensar bem…
…..

– CHAMADA URGENTE PARA O GALARDOADO, É FAVOR LIGAR O TELEMÓVEL!



Pronto, já sei…
“A vós a iluminação, a nós o galardão”, como disse Maria Albertina.

Bom jantar… Desculpem, OK?Muito obrigado!

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quarta-feira, janeiro 03, 2007

2006 - THE ESPERTALHOTE AWARDS

Janeiro é para o mundo das pessoas de bom gosto, o que Fevereiro é para os cinéfilos: eles têm os Óscares, nós, vós, leitores deste fino blog, têm o Espertalhote, uma estatueta virtual cobiçadíssima, como sabem. Assim, aqui estão os premiados:

O Espertalhote dos palpites crípticos vai para... neptumância!
O Espertalhote do 'toma lá uma citação prà troca' vai para... eduardo!
O Espertalhote do 'venho cá pouco, mas quando venho acerto' vai para... witchie!
O Espertalhote de 'mui nobre e sempre leal' vai para... Papalagui!
O Espertalhote do 'só vim assombrar um bocadinho e vou-me já embora' vai para... fantasma!

E, por fim, o Espertalhote de Espertalhote Propriamente Dito vai para... JOANA!

Podem recolher à saída os vossos sacos de ofertas, que contêm broas castelar, fatias de bolo-rei, naperons, bibelôs e produtos da Avon. Como? Estou a tentar livrar-me dos restos natalícios?! Como se atrevem?!

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terça-feira, janeiro 02, 2007

DEZEMBRO - ESPERTALHOTAS DO MÊS

Duas cavadelas, duas minhocas: qual dupla de cantores nordestinos, elas continuam a dar música a este blog:

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