quarta-feira, novembro 29, 2006

29 de Novembro - Citação do Dia

I'm not blind. I know when I'm being unreasonable. Sometimes I stand outside my body and just watch it all, totally separate. 'Now, stop,' I say to myself, but it's like I'm... elated. I've got to rush on, got to keep going. 'Yes, yes, I'll stop,' I think, 'only let me say this one more thing, just this one more thing...'

Anne Tyler, Dinner at The Homesick Restaurant

segunda-feira, novembro 27, 2006

Não, Fernando Pessoa é Isto:

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
'O menino da sua mãe'.

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
'Que volte cedo, e bem!'
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

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domingo, novembro 26, 2006

MCV 1923-2006

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece
De varas trespassado
- Duas, de cada lado -
Jaz morto e arreféce.

Raia-lhe a farda o sangue
Da quádrupla função
Nórdico mouro exangue
Fita com olhar langue
O que ainda tem na mão

Que varonil quimera!
Agora, que vara tem?
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome, e o mantivera:
O menino de sua mãe.

Caiu-lhe da algibeira
A lapiseira breve.
Dera-lhe o pai. Está inteira
E boa a lapiseira,
Ele é que já não escreve.

De outra algibeira, alada
Espuma de porto covo,
A brancura manchada
De um lenço... Foi a criada
Quando êle era mais novo.

Lá longe - na Casa do Conto - há prece:
'Que morra cêdo, e bem!'
Malhas que o Império tece!
Ainda vive e parece
O menino de sua mãe.

Mário Cesariny de Vasconcelos

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sexta-feira, novembro 24, 2006

24 de Novembro - Citação do Dia

No abismo da exaustão, chega um momento em que o espírito faz um esforço derradeiro para recuperar a consciência e a razão, antes de se estilhaçar ou de se extinguir pelo sono. Nesse momento, todos os sentidos, postos, por assim dizer, em carne viva pela fadiga, tornam-se por um instante extraordinariamente melindrosos, tão impressionáveis pelos mais pequenos estímulos como a pele nova de uma ferida acabada de sarar.

William Styron, O Sibarita

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quarta-feira, novembro 15, 2006

15 de Novembro - Citação do Dia

Os Amantes Sem Dinheiro

Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.

Eugénio de Andrade
Espertalhotes: witchie, papalagui, eduardo, mile stones

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segunda-feira, novembro 06, 2006

6 de Novembro - Citação do Dia

He wondered why it was one had sometimes to feel responsible for the behaviour of people whose natures were wholly anthipathetic to one's own.

Willa Cather, One of Ours

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domingo, novembro 05, 2006

5 de Novembro - Citação do Dia

A vida é sem vida, e nada
Vive mais que o coração...
E envolve-te a terra fria
E a minha saudade não!

Fernando Pessoa

Espertalhota: bikovska

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sábado, novembro 04, 2006

4 de Novembro - Citação do Dia

Que esse aguilhão (necessidade financeira) é muito útil, provam-no os homens de grandes posses que, por mais talentosos que sejam, raras vezes se dão ao trabalho de produzir uma obra sólida. Permanecem amadores e, ainda que amiúde tenham a graça e o encanto do amador, nunca deixam de patentear também os seus defeitos.

Somerset Maugham, Liza, a Pecadora

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sexta-feira, novembro 03, 2006

3 de Novembro - Citação do Dia

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos.
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

Alberto Caeiro

Espertalhotas: witchie, papalagui, lililima

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quinta-feira, novembro 02, 2006

2 de Novembro - Citação do Dia

That's the worst of beginning things. One never knows where they stop.

Rudyard Kipling, The Light That Failed

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quarta-feira, novembro 01, 2006

OUTUBRO - ESPERTALHOTE DO MÊS

Chegou, andou aí uns meses a cheiriscar e a deixar uns palpites crípticos (vício que ainda não lhe passou completamente), e finalmente atingiu o seu grande objectivo na vida: ser Espertalhote do Mês no Palavras dos Outros - recordo que este almejado título ainda não foi alcançado por Pacheco Pereira, Maria Filomena Mónica nem, surpreendemente, Bárbara Guimarães. Não desanimem, amigos, a vossa hora chegará. Por enquanto, as trombetas da glória soam em honra do nosso

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